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A Reciprocidade do Toque

A reciprocidade do toque é a narrativa apresentada pelas artistas Vivi Rosa e Yohannah de Oliveira que sugere o toque como elemento fundamental à criação. Com trabalhos de arte não antes vistos, a mostra estreia a reunião das duas artistas em uma unidade expográfica e elementar. Evoca-se a forma redonda. O ciclo. O círculo. Esse é o elemento que figura o arquétipo feminino, que em uma cosmovisão, se apresenta em repetidas vistas durante a exibição. Os círculos vão pairando, em composições distintas, convidando à contemplação de uma pesquisa gestual.

 

A exposição concentra experiências visíveis e sensoriais no ambiente da casa, de forma a ativar o mais íntimo dos sentidos. E isso se dá, devido a um ponto de partida em comum em trabalhar com o gesto. Gesto esse que ficou adormecido e isolado por um tempo maior do que um ano, ou dois anos, prolongando-se até o presente em um comportamento limitado e individual. Tratamos aqui, de uma experiência coletiva, de um corpo-sentido, que transborda para além do manuseio da manipulação das terras, e gestos aplicados aos materiais que dão vida ao ambiente.

 

Na atual exposição, são exibidas esculturas que por ora se agrupam em determinadas regiões, como em um jardim de esculturas, como as obras Brasiliana e Gota que convivem uma com a outra em harmonia, e por ora as peças são vistas desagrupadas em diálogo com as pinturas-esculturas, que assemelham a portais, passagens e vínculos para o etéreo. Por um adensamento de massa branca e molhada, esse corpo escultórico é sustentado por uma concentração de matéria que se sobrepõe em camadas grossas e que endurecem, e se eternizam em curvas moldadas e esculturas. Ou também pelo escuro, o Vulcano que surge como um contraponto visual na primeira sala da exposição.

 

Em outros momentos, as topografias da superfície da terra e a superfície dela se casam em telas que são exibidas nas paredes. Os trabalhos ganham nomes de partes do corpo, como Fêmur de Yohannah, que parece friccionar a matéria a fim de visualizar o que existe por debaixo da camada dura e seca de um osso, ou de uma montanha. Enquanto as obras Falo e Espera de Vivi, se apoiam na parede que também ganha uma corporeidade surrealista e fantasiosa.

 

Em uma sala especial, uma mesa ao centro e a luz quente, indica o ambiente, mais acolhedor, como um espaço de intimidade e dedicação à experimentação. O pó de vidro, o carvão, o pó de gesso e mais fragmentos de materiais ficam dispostos em tampos de vidros e os elementos cotidianos no trato desses materiais, ficam dispostos em uma espécie de gabinete de curiosidades, reunindo objetos íntimos e afetivos. E torna-se o cerne da exposição dessa textura, vive entre o sublime e o fatal. A pesquisa se torna forte do repertório, não só das artistas, mas também nas mãos do espectador curioso, que se permite experimentar a sensações de uma pele brilhante e granulada.

 

A mostra também conta com a exibição de um vídeo que revela camadas, muito similares à topografias que se apresentam na superfície, onde a matéria rareia e se solapa de acordo com a intensidade do toque. As imagens de uma casa são as mesmas da casa que recebe a exposição, e ressoam entre a casa-ateliê e a casa-templo do trabalho. E é essa a sensação latente de um lugar que se dilui, desmaterializa-se e se mescla às massas e composições e fazem o espectador se perceber ativando a obra. É do toque ao pó, em movimentos contínuos e descontínuos que atuam metaforicamente as memórias do toque. É que afinal, estamos aqui, condicionados pela nossa eterna condição humana: o tempo, diante da visão da infinita beleza.

Texto crítico: Núria Vieira

A Reciprocidade do Toque

Duo Exhibition - Vivi Rosa e Yohannah de Oliveira

Casa Ondina - SP - Brasil

Outubro, 2022

 © 2025 por Vivi Rosa. Orgulhosamente criado com Wix.com 

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